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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Desenvolvimento sustentado










Comunicação de Raul Figueiredo nas Jornadas Autárquicas (1)
Estas jornadas de reflexão sobre o passado, presente e futuro do trabalho da CDU nos Órgãos Autárquicos, realizam-se num momento particularmente crítico da vida do nosso Pais e do nosso povo, como consequência da concretização do pacto de agressão acordado entre a troika estrangeira e a troika nacional, com o apoio do Presidente da República.
A proposta de Orçamento do Estado para 2012, apresentada pelo governo PSD/CDS, não deixa dúvidas quanto aos objectivos pretendidos, traduzidos na degradação acelerada das condições de vida dos trabalhadores e do povo, e no afundamento de Portugal no plano económico e social.
É neste contexto, de extrema gravidade, que me proponho falar do desenvolvimento de Alpiarça, uma terra com uma história de resistência e luta, que muito nos orgulha.
Falar de Alpiarça hoje é, por isso, um desafio e um dever que sinto e que pretendo registar como testemunho do profundo respeito por todos os homens e mulheres que se bateram por um Pais livre e democrático em que as condições de vida dos trabalhadores e do povo fossem minimamente dignas.
Aos que, com sacrifícios de toda a ordem, até da própria vida, se dispuseram a percorrer esse caminho pedregoso, mas de futuro, aqui fica o meu gesto de sentida gratidão e homenagem.


Alpiarça foi, até ao 25 de Abril de 1974, uma terra ostracizada pela ditadura salazarista, que tudo fez para que o atraso económico e social se acentuasse em relação a concelhos vizinhos. A decisão reclamada pelos grandes proprietários agrícolas para que a fábrica da Compal se instalasse em Almeirim é disso um exemplo. Sem empresas e sem indústria os assalariados agrícolas tinham como certa uma vida plena de dificuldades e de miséria.
Alpiarça era antes do 25 de Abril uma terra muito pouco desenvolvida, em que a principal actividade económica - a agricultura - garantia uma ocupação marcadamente sazonal. Por força desta circunstância muitos operários e assalariados agrícolas tinham que procurar o sustento das suas famílias fora da terra. Para o trabalho ia-se a pé ou de bicicleta, no caso dos homens.  Outros, mais afoitos, ou com mais necessidades, passavam “a salto” as fronteiras do nosso País a caminho de terras de França ou de outras paragens mais longínquas. As infraestruturas que garantiam o acesso ao ensino e educação e aos cuidados de saúde eram escassas, não obstante o esforço e a entrega abnegada dos seus profissionais. O abastecimento público de água era muito limitado. O abastecimento de géneros alimentícios era garantido pelo mercado (a praça como era conhecida) e por algumas mercearias dispersas. Os que podiam matavam o porco que a salgadeira conservava para o resto do ano. As dores e amarguras da vida afogavam-se nas tabernas, às vezes para esquecer os perigos a que estavam sujeitos os familiares que combatiam numa guerra injusta. 
A limpeza urbana era assegurada por uma carroça puxada por uma mula. 
Não havia tratamento de esgotos nem recolha de lixo e as estradas e caminhos de terra batida ou de pedra solta estavam ao abandono. 
A iluminação pública era incipiente e a energia eléctrica só estava ao alcance dos mais abastados. 
A protecção civil resumia-se a um ou dois carros de combate a incêndios e a uma ambulância velha que transportava os doentes e os acidentados para o hospital. 
Os velhos, nem todos, tinham o “asilo” que aliviava o sofrimento, antes da morte certa. 
Os jovens aprendiam a nadar no pego do carril e no pego dos salgueiros. Eram as nossas piscinas municipais. 
A bola de trapos era chutada pelo pé descalço protegido pela pele dura e calejada. As roupas eram lavadas à mão na vala de Alpiarça ou no lavadouro municipal
Para completar o quadro de miséria e opressão, a PIDE, no seu quartel, tratava dos mais “rebarbativos”, quase sempre com guia de marcha para o hospital ou para a prisão. Ser comunista era considerado crime de lesa-pátria.
Esta era Alpiarça no tempo de Salazar e de Caetano.

A tudo isto resistia um povo que lutava por uma vida melhor. Que se organizava em comités de greve animados por muitos militantes comunistas e outros democratas. Que se refugiavam nas colectividades “Águias” e “Música” em que as secções culturais eram autênticos viveiros de informação e propaganda anti-regime. Outros mais activos foram forçados a abandonar as suas casas e famílias para trabalhar na clandestinidade. Mulheres como a Maria Albertina morreram para darem à luz o filho que o ventre nutriu.
Para o povo trabalhador e oprimido a vida era realmente muito dura.
O 25 de Abril de 1974 foi, no essencial, obra de um povo sofrido e humilhado, que nunca baixou os braços e que à fatalidade disse não.

O sonho comandou a vida!

(Continua)

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