Por António Emídio Fragoso Sardinheiro
Solicitou-me o Sr. Presidente da Câmara de Alpiarça, Dr. Mário Pereira, e demais representantes da CDU, que considerasse o convite para presidir à comissão de honra que irá no próximo dia 12 de Novembro prestar homenagem a António Lima Fernandes.
Aceitei desde logo porque senti também que esta homenagem ajudaria a realocar uma parte da nossa história e faria muito sentido, quer na relação que a mesma tem com a história do ciclismo em Alpiarça, quer em particular por ser também uma iniciativa de relevo politico para o meio, para as pessoas de Alpiarça e para todos os Alpiarcenses em geral.
Vamos dar o nome de Lima Fernandes a uma rua de Alpiarça? não, não vamos só dar o nome de Lima Fernandes a uma rua, vamos também e em particular repor um pouco a nossa história local no seu lugar.
Vamos pois dar a máxima dignidade a essa mesma rua, em respeito pelos seus moradores, e em respeito por quem tem memória, o povo de Alpiarça é um povo com memória, o povo de Alpiarça é um povo com história, honremos pois a sua história e a sua memória.
Falar do Lima Fernandes é falar também e principalmente dum lutador e dum guerreiro, falar dum homem que com a sua energia e com a sua força veio dar muitas alegrias a todos os alpiarcenses, dum homem que tendo tido origem no meio rural, o Lima era um jovem trabalhador rural, trabalhava no campo, veio transportar para o meio desportivo e para o ciclismo em particular, para o ciclismo de Alpiarça e dos Águias, o vigor a força que este povo também históricamente sempre representou, o Lima era um dos nossos mais genuínos embaixadores, projectava Alpiarça, mas não projectava só Alpiarça, projectava acima de tudo alegria, muita alegria, e projectava força e conquista, o Lima era acima de tudo um símbolo da nossa força e da nossa garra, era um dos nossos, era o homem que saindo do campo se tornou como que um herói, um herói oriundo do povo, um herói do desporto e do ciclismo em que muitos se reviam.
Quando o Lima sprintava o povo entusiasma-se, quando o Lima sprintava e ganhava mais uma etapa da volta ou um circuito, o povo vibrava e vibrava muito, Alpiarça ficava quase sempre ao rubro.
Foram tempos de grandes alegrias, mas o Antonio Lima morreu, morreu em 22 de Maio deste ano, morreu com 76 anos, mas morreu com algumas amarguras no coração, desde logo, pela que decorreu da sua própria doença, da doença que o levou, também pelos filhos, ambos morreram enquanto Lima ainda vivia, e morreu amargurado também “pelo tratamento a que tinha direito” e que em 2005 lhe foi negado, e este caso ficou-lhe na alma enquanto viveu.
António Lima Fernandes, sendo o mais legitimo representante do ciclismo de Alpiarça, não foi convidado para a inauguração do monumento ao ciclismo em 2 de Abril de 2005, tempos idos, Lima foi desprezado, foi como se não existisse, eles passaram uma esponja sobre o nome do maior simbolo do ciclismo alpiarcense .
Dias antes da inauguração dizia-me: - “ tu já viste bem o que é que estes gajos me fizeram, tu já viste como é que eles me estão a tratar, ainda por cima disseram que me mandaram um convite, mas não mandaram, todos receberam menos eu”, eu não recebi nenhum convite, tu já viste bem?!
O Lima falava o que lhe ia na alma e ainda disse mais, ainda disse muito mais, o que ele disse e não vou referir todos nós imaginamos.
Foi assim que António Lima se lamentou, estava revoltado, muito revoltado, “sabes o que é que acho?”, dizia-me ainda, “não me convidaram porque eu não sou dos deles, não me convidaram porque eu sou comunista”.
Será ? dizia-lhe eu em tom algo sarcástico, será mesmo? Oh Lima talvez não tenha sido por isso, se calhar esqueceram-se mesmo, “esqueceram! esqueceram! foi tudo feito de propósito.”
Em memória do Lima e em memória da nossa revolta, será por estas e também será por outras, por muitas outras, que a esta homenagem deve ser dado um sentido de reafirmação da nossa história.
Histórico:
- António Lima Fernandes nasceu em Alpiarça a 29 de Novembro 1934 e faleceu em 22 de Maio de 2011 com 76 anos de idade.
- Lima Fernandes vestiu a camisola do Clube Desportivo “Os Águias de Alpiarça” entre 1958 e 1965, tendo participado em cinco Voltas a Portugal em Bicicleta, prova esta em que venceu um total de oito etapas.
- Na Volta de 1961, foi uma das grandes revelações ao conquistar quatro vitórias em outras tantas etapas.
- Participou ainda em provas internacionais realizadas em Espanha, em 1960, Taça Latina de pista em Madrid, Volta à Tunisia em 1959 e no Brasil, corrida do 9 de Julho em S. Paulo, todas elas em representação de Portugal.
- Lima Fernandes foi também duas vezes campeão nacional de velocidade, em 1961 e 1962.
- Lima Fernandes foi ainda vencedor em muitas outras provas , etapas de voltas e circuitos regionais, tendo vencido uma vez o circuito de Rio Maior, duas vezes o circuito de Grandola, uma vez a prova Libras de Ouro da Figueira da Foz, em disputa com Alves Barbosa, ainda uma prova Lisboa-Alpiarça e uma Volta dos Campeões , circuito com 60 voltas realizado também na Figueira da Foz.
- João Rebelo, antigo ciclista e comentador do Diário Ilustrado, considerava-o “o melhor sprinter da sua época”.
Lima Fernandes é pois o campeão a quem vamos prestar homenagem.
Aproveito para endereçar a todos um convite à participação na Homenagem que irá ser prestada a Lima Fernandes em 12 de Novembro de 2011, sábado.
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